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  • Foto do escritorO Eremita

A Roda do Ano e os Sabbaths


Você conhece a roda do ano? Eu sei que muita gente (praticantes geralmente) tem esse conceito muito definido, ao mesmo tempo muita gente que está começando os estudos ou tem curiosidades sobre os ritos das religiões neopagãs podem se confundir sobre o que a roda representa, como ela se organiza e como se comemora.


Começando parte básica disso tudo, a roda do ano é organização das estações, dos dias. E cada estação está diretamente ligada ao culto da Deusa e do Deus e como isso reflete na nossa prática cotidiana. Além disso a wicca e os segmentos religiosos ligados ao paganismo e neopaganismo são pré-industriais agrárias — que surgiram e se consolidaram antes da primeira revolução industrial e tem como base a agricultura, a caça e artesanato – e por isso tem sua base de ritos e adorações conduzida pela natureza e suas manifestações, como as mudanças de estações.


Organizar seus ritos e suas adorações com base na roda do ano é a maneira mais fácil de agradecer aos Deuses pela colheita, pelo calor, pelo frio, pela luz, pela noite, pelas bençãos... enfim, pelo eterno ciclo da natureza que contempla morte, renascimento e transformação. A roda do ano se organiza como falei antes nos solstícios e equinócios que abrem as estações (primavera, verão, outono e inverno). De forma prática tudo isso se organiza através dos Sabbaths.


Os sabbaths que também são conhecidos como sabá das bruxas ou sábado das bruxas (já que seguindo a linha que o sábado é o dia de comemorar, agradecer e descansar) é a reunião dos praticantes da bruxaria para agradecer todas as coisas e cultuar suas divindades. A roda do ano é composta por oito sabbaths subdivididos nos sabbaths maiores e os menores, que são intercalados no decorrer do ano.


Obviamente os sabbaths maiores possuem um maior impacto energético e maior magnitude que os menores. Isso não torna esse sabbaths menores sem importância, pelo contrário, também são de extrema importância para os praticantes apesar não terem uma magnitude tão grande quanto os maiores. Os Sabbaths maiores são: Imbolc, Beltane, Lughnasadh e Samhain. Os menores são Ostära (equinócio da primavera), Litha (solstício de verão), Mabon (equinócio de outono) e Yule (solstício de inverno), somando os oitos sabbaths.


Cada Sabbath traz consigo uma energia/essência que podemos nos conectar para entender não só a forma que a natureza se apresenta e nasce, morre e renasce mas também a trajetória do encontro da Deusa e do Deus até o momento em que ele “morre”, deixando sua semente na Deusa para voltar a brilhar. Essa trajetória é cíclica e não possui exatamente um inicio ou um final, isso quer dizer que ela está acontecendo desde sempre e assim vai continuar a acontecer, podemos brevemente resumir isso assim:


Beltane (a noite do amor)

-Roda do Norte: 30 de abril.

-Roda do Sul: 31 de outubro.


A Deusa (na face donzela) e o Deus Cornífero se casam e ele planta sua semente dentro da Deusa, jovens e apaixonados, dividindo uma vida conjugal;


Litha (solstício de verão)

-Roda do Norte: 21 de junho.

-Roda do Sul: 22 de dezembro.


É o momento em que o Deus Cornífero inicia sua preparação para descer ao submundo, mas ainda junto da Deusa nas suas vidas de casados. No período que sucede a comemoração do Litha e antecede o Lughnasadh o Deus vai até o submundo;


Lughnasadh ou Lammas (ritual de colheita e prosperidade)

-Roda do Norte: 1 de agosto.

-Roda do Sul: 2 de Fevereiro.


É o período da primeira colheita do ano e junto a isso o Deus já no submundo desbrava essa terra;


Mabon (equinócio de outono e segunda colheita do ano)

-Roda do Norte: 23 de setembro.

-Roda do Sul: 20 de março.


O Deus passa enfraquecer e sentimos isso na natureza, com o frio se aproximando, as folhas caindo e os animais que fazem a hibernação prepararem a caverna para o seu descanso. Assim, o plantio vai sendo cessado ao ponto que os dias vão se tornando cada vez mais curtos e as noite cada vez mais longas;


Samhain (a noite das bruxas e a última colheita)

-Roda do Norte: 31 de outubro (ano novo das bruxas).

-Roda do Sul: 30 de abril (ano novo das bruxas).


O Deus (agora na face do senhor das sombras) morre e volta ao útero da Deusa, lembra que ele tinha plantado sua semente na Deusa lá no Beltane? Pois bem. Esse sabbath é o ultimo de colheita, os últimos frutos são colhidos, os animais se recolhem nas suas cavernas e a terra adormece. Na noite em que se comemora o véu que separa o submundo do mundo dos vivos fica frágil para facilitar a volta do Deus para o útero da Deusa, e por isso nessa noite os espíritos dos desencarnados conseguem andar pela terra na noite das bruxas;


Yule (solstício de inverno)

-Roda do Norte: 22 de dezembro.

-Roda do Sul: 21 de junho.


A Deusa na face da mãe gera o Deus que assume a face da criança prometida, ao mesmo tempo que a Deusa começa a envelhecer aos poucos;


Imbolc (a noite do fogo)

-Roda do Norte: 2 de fevereiro.

-Roda do Sul: 1 de agosto.


A Deusa agora na face anciã se recolhe na floresta ao passo que o Deus vai crescendo e se tornando jovem. Na noite do fogo as luzes retornam e são representadas pelas velas. Entre o período que sucede o imbolc e antecede o ostära a Deusa se renova e volta a assumir a face da donzela;


Ostära (equinócio da primavera)

-Roda do Norte: 20 de março.

-Roda do Sul: 23 de setembro.


Os Deuses que agora deixaram de ser mãe e filho, se apaixonam e começam a flertar até o Beltane onde seu casamento se consuma.


Mas e na prática, como isso funciona? Bem, existe três formas de se celebrar a roda do ano que são a roda do norte, a roda do sul e a roda mista.

A roda do norte que é considerada clássica uma vez que esses ritos foram organizados e sistematizados no hemisfério norte. E a roda do sul temos uma adaptação nas datas para que elas coincidam com as mudanças de estação no hemisfério sul que são sempre o inverso das estações no norte (ou seja, quando é verão no hemisfério norte, é inverno no hesmifério sul e vice versa).


É claro que de acordo com o ano, as datas podem sofrer uma pequena variação entre um ou dois dias. Em algumas tradições, é dito que os portais para celebrar a energia do sabbath ficam abertos por cerca de sete dias e sete noites. Na tradição que eu sigo os portais ficam abertos por três dias que são basicamente esse período de alteração que as datas podem ter de acordo com o ano.


Deixei para falar por último da roda mista porque ela é praticada somente no hemisfério sul. Na roda mista é usada como base a roda do norte para os quatro grandes sabbaths (imbolc, beltane, lughnasadh e samhain) e a roda do sul para os quatro menores sabbaths que são ostära, litha, mabon e yule. Mas e por que essa roda mista existe?


Bem, para entender isso vou explicar o que significa egrégora. Egrégora é a força que algum símbolo, desejo, manifestação, pensamento tem. Por exemplo a páscoa que representa o período de renascimento e que foi incorporado pelas religiões cristãs, possui uma egrégora forte. Vemos os supermercados cheios de ovos de páscoa, colombas pascoais, e temos a caça aos ovos porque tudo isso é uma das formas de celebrar a ressurreição e a fertilidade, ver tudo isso acontecendo mostra a força da egrégora que foi criada ali.


E aí como essas tradições existem por séculos e foram incorporadas por outras religiões as datas ficam incrustadas com a força da egrégora que é celebrada meio que de forma a “a seguir o fluxo”. Se parássemos para pensar nisso, rapidamente, perceberíamos que a páscoa é uma grande celebração do Ostära que representa a chegada da primavera e da fertilidade da terra. Porém no hemisfério sul, a primavera chega apenas em setembro e dessa forma a páscoa teoricamente só deveria ser comemorada nesse mês. Claro que aqui nesse exemplo tem mais questões a se pensar como a páscoa se popularizando por causa da sua incorporação pelo cristianismo, mas essa é a linha de pensamento.


Por isso, cada um é livre para decidir qual roda quer trabalhar. Mesmo estando no hemisfério sul, você pode se orientar pela roda do norte ou a roda mista. É sempre um processo de escolha e identificação. Por identificação e pelo coven que eu faço parte, comemoramos seguindo a roda do sul, porque faz mais sentido celebrar as mudanças de estação nas datas certas aqui no Brasil.


Cada sabbath tem suas cores, seus artefatos e formas diversas de se organizar e se preparar para cada um deles. Normalmente se indica enfeitar o altar e casa com as cores e os símbolos de cada sabbath colocando também frutos e flores da estação. Por isso que a preparação para festejar qualquer sabbath começa a ser preparada alguns dias antes do ritual em si.


Outro detalhe importante é que alguns sabbaths, alguns Deuses específicos são cultuados como Ostära no ostära, Brigit no imbolc ou Lugh no lughnasadh, por exemplo. Você pode celebrar esses ritos com os Deuses referentes a cada um, mas isso não é uma obrigação. Se por exemplo você está girando o ano com entidades egípcias por exemplo, você pode adaptar. Chamando a Deusa da fertilidade egípcia para o Ostära, por exemplo. Você pode comemorar também com a representação mais geral dos Deuses (Sol e Lua), é sempre uma questão de escolha e o que faz você se sentir mais a vontade. No início de cada roda do ano você pode definir também alguma Deusa especifica para representar a face Feminina e um Deus específico para representar a face masculina, ou mesmo todo um panteão.


Cada praticante com o tempo vai entendendo sua forma de celebrar os rituais que podem ser das mais diversas formas, sempre de acordo com as ferramentas que você tem a sua disposição. Por exemplo: O Ostära é a chegada da primavera e traz consigo as flores e os frutos. “E agora, não tenho dinheiro pra comprar flores e comemorar, o que faço?” Bem você pode colher flores na rua, você pode fazer flores de papel, desenhar flores e adaptar a comemoração para o que tem disponível, o respeito e a intenção são coisas importantes e que temos dentro de nós.


Os sabbaths são a forma mais pura de partilhar e agradecer aos Deuses, se você faz parte de um coven ou de uma tradição isso é feito em conjunto e se você é praticante solitári@ você pode fazer isso no seu altar, com longas meditações e danças, e cantos e partilha de alimentos com os Deuses. E por isso que cada um encontra sua forma e ela não é inferior a nenhuma outra. Todas essas comemorações trazem essa conexão e o sentimento de fazer parte da terra e dos Deuses, assim como eles fazem parte de você e se manifestam através das sutilezas que encontramos no nosso dia a dia. E aí, como você comemora os sabbaths?

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